A Semiologia (do grego semeion, "signo", e logos, "estudo"), de forma geral, teve origem a partir do linguista suíço Ferdinand de Saussure, no século XX, que a descreveu como a ciência dos signos. O signo é o elemento fundamental da Semiologia e envolve um vasto conjunto de sinais especiais emitidos pelos objetos do mundo: a febre pode ser entendido como um signo/sinal de uma infecção; a disartria e a hemiplegia de um paciente são signos/sinais de um acidente vascular encefálico; a cor vermelha é um signo/sinal do sangue. A Semiologia Médica, dessa forma, é compreendida como o estudo dos sinais e dos sintomas das doenças. As doenças, como objeto de estudo, emitem sinais e sintomas que podem ser ordenados e compreendidos através da Semiologia, de modo a gerar hipóteses diagnósticas e tratamentos.
Os sinais e sintomas das doenças são descobertos por meio da semiotécnica, que se desenvolve na anamnese e no exame físico. Coletar essas informações exige que o profissional tenha as habilidades necessárias, pois somente um olhar atento e o conhecimento preciso da Semiologia permitem que o médico identifique os sinais e sintomas e os utilize de forma eficaz na formulação de hipóteses diagnósticas e no cuidado com o paciente . E não se pode deixar de mencionar o fato que esse método clínico, sistematizado, é uma herança de Hipócrates que, meio milênio antes de Cristo, estruturou a anamnese e o exame físico em torno da investigação das doenças.
A Medicina no século XXI, entretanto, está inserida em um cenário cada vez mais tecnológico e isso pode ser um obstáculo para a manutenção da Semiologia na prática médica. Longe de serem condições antagônicas, a tecnologia e a Semiologia podem gerar questionamentos importantes para um médico no que tange aos exames complementares e à disponibilidade de grande quantidade de informações (para o profissional e para o paciente), por exemplo. Os obstáculos, inerentes à nossa contemporaneidade, não podem impedir que o médico exerça a arte da Semiologia, condição essencial também para a construção de uma boa relação médico-paciente.
Durante a graduação, o conhecimento semiológico representa a transição entre os ciclos básico e clínico do curso de Medicina. Nessa etapa, o estudante passa a ser um elemento ativo no cuidado com o paciente, o que gera mudanças expressivas na atitude do aluno, que assume uma grande responsabilidade no cuidado de uma outra pessoa (SANTOS et al. 2003). É um momento crucial da formação médica, que deve ser compreendido como tal pelos professores e pelos alunos. Acreditamos que uma parte importante da construção desse conhecimento é a curiosidade. O aluno deve ser instigado a buscar explicações, a adquirir e a aperfeiçoar habilidades, apresentar suas dúvidas e ter acesso às melhores fontes para encontrar as respostas. A Medicina é um mundo vasto, que despertou a curiosidade de muitos antes de nós, que tanto contribuíram para o entendimento que temos hoje sobre os sinais e sintomas de doenças. O que já se conhece deve ser amplamente relembrado por nós, e o que permanece pouco compreendido deve nos impulsionar a exercer a Semiologia da melhor forma, servindo de base para a construção de novas respostas.
Referências:
DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Grupo A, 2019. E-book. ISBN 9788582715062. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582715062/. Acesso em: 10 ago. 2024.
SANTOS, J. B. et al.. Reflexões sobre o Ensino da Semiologia Médica. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 27, n. 2, p. 147–152, maio 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbem/a/XMmJ57p9NYsB57mJsmFqLmy/#. Acesso em 10 ago. 2024.
ARO, A. L. B. Q.; DIDÓ, D. R.; HALL, J. V. W.; MIRANDA , N. V. de; ANDRADE, N. G. A. de; KANGERSKI, S.; VAZ, V. H. F. de M.; TONIAL, V. S.; CAIADO, L. C. C. L. A Evolução da Semiologia Médica: da Anamnese às Novas Abordagens Tecnológicas. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences , [S. l.], v. 5, n. 5, p. 5706–5716, 2023. DOI: 10.36557/2674-8169.2023v5n5p5706-5716. Disponível em: https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/1068. Acesso em: 10 ago. 2024.