Sobre a Semiologia

A Semiologia é, conceitualmente, de acordo com Aurélio Buarque de Holanda, "a ciência geral dos signos, segundo Ferdinand de Saussure (linguista suíço do século XIX), que estuda todos os fenômenos culturais como se fossem sistemas de signos, isto é, sistemas de significação em oposição à linguística, que se restringe ao estudo dos signos linguísticos, ou seja, da linguagem; a semiologia tem por objeto qualquer sistema de signos (imagens, gestos, vestuários, ritos etc.); a semiologia médica se ocupa do estudo e da descrição dos sinais e sintomas de uma doença".

No sentido empregado, os signos são os sinais, os símbolos, as imagens, os gestos, os ritos. Para Alvin Finkelstein, quem pratica a Semiologia Médica, é privilegiado por uma situação exclusiva: "o objeto pesquisado fala". É indispensável, portanto, que o praticante da arte desenvolva, continuamente, a habilidade de escutar. Nós podemos olhar e não enxergar, ouvir e não escutar. É importante saber que patologia não é a mesma coisa que doença, que não somos formados médicos para tratar de doenças (anemia, pressão alta, câncer), mas para cuidar de pessoas doentes: anêmicas, hipertensas ou cancerosas.

Nós não somos acordados de madrugada para atender casos clínicos, mas para tentar melhorar e até curar pessoas. Nós não temos a faculdade da onipotência, mas desde muito cedo, somos tentados a agir como se fossemos onipotentes. Não nos pertence à vida alheia, nem os corpos dos outros. Às vezes temos que tomar decisões muito graves em momentos de extrema dificuldade, e precisamos trabalhar continuamente as nossas dificuldades e tentar superar as nossas limitações.

Precisamos diminuir o número de vezes em que erramos, aproveitando um percentual menor das oportunidades que temos de errar. Não sendo onipotentes e não tratando doentes como casos, não estaremos livres de errar, mas poderemos reconhecer que erramos e tentar reparar os resultados dos nossos enganos por descuido, por falta de conhecimentos ou de atenção. Se não aprendermos refletindo sobre os nossos erros, estaremos fadados a repeti-los. Eles poderão ser simples e sem consequências, mas poderão ser graves e custar a saúde ou a vida a alguma pessoa.

A iatrogenia é a indução de doença por parte de quem exerce a prática de cuidar de pessoas. Uma das formas mais frequentes de causar iatrogenia é pela palavra. Por isto, temos que escutar mais, com interesse, inteligência e sensibilidade, e temos que falar menos. Muitas pessoas vêm ao médico até porque estão doentes. Um grande número delas quer ser ouvido, quer ter um interlocutor interessado, inteligente e sensível, capaz de aproveitar o privilégio único de pesquisar objetos que falam. E que falam até com palavras.

Durante os atendimentos, nós vamos ouvir pessoas que desconhecemos e que não nos conhecem, mas que apesar desse desconhecimento recíproco, nos confiarão informações importantes sobre suas vidas. Muitas delas revelam fatos de sua intimidade, tão confidenciais que nunca foram compartilhados com quem quer que seja. Nós também vamos tocar nos seus corpos para examiná-las e o ato de tocar é, também, uma forma de desvelar a intimidade das pessoas. Nós devemos nos comportar à altura da confiança que as pessoas depositam em nós. Esta é uma forma de retribuir com dignidade a confiança que recebemos.

Fonte: Roteiro de Semiologia 2016.2 - MED157